Teoria do Egoísmo
Por Gustavo Gonçalves
Antes de esmiuçar algo sobre essa ideia, gostaria de fazer um alerta às pessoas que gostam da vida: por favor, não sigam em frente, parem! Sei que isso só estimula a leitura, mas é um simples conselho para que as coisas não mudem de forma negativa para você, agradeço pelo empenho e gentileza, mas é sério, não quero estragar a vida de ninguém!
E para começar, esqueça tudo o que você aprendeu sobre sentimentos, nada disso é verdade! Durante toda a nossa vida, aprendemos conceitos bonitos em relação aos sentimentos, porém falsos. Você realmente acredita que é possível gostar de alguém? Essa é a maior mentira que já contaram!
Somos todos - sem a menor exceção- egoístas e egocêntricos. Mas não se culpe por isso, nascemos humanos e possuímos apenas um corpo, a vida é assim e não há o que se fazer.
Antes que tudo pareça um charlatanismo depressivo, prossigamos para uma análise bem sutil. É bem provável que em algum momento de sua vida, você já sentiu fortes emoções, certo? E possivelmente havia uma outra pessoa envolvida nessa situação, ou melhor, alguém que despertou essa sensação em você. Acredito que até agora não chegamos a nenhum absurdo aparente. É comum vivermos situações assim, praticamente todos os dias vemos "pessoas que gostamos" e que fazem com que o dia fique mais agradável. Mas a verdade é que nunca gostamos de ninguém, mas sim da sensação que cada um desperta dentro de nós mesmos.
Você não pode gostar de alguém por uma razão muito simples, isso é ilógico. Sentimentos todos temos, e estão dentro de nós, são estímulos psíquicos e físico-químicos que se manifestam em nosso interior. Mas daí, a dizer que esses estímulos são de uma terceira pessoa é insanidade. Não há como, é algo puramente seu. Ocorrem dentro do seu perímetro corporal. Portanto, quando dizemos sentir algo por alguém, na verdade, estamos tentando dizer que tal pessoa nos causa uma sensação espontânea e interna, e que esta, por sua vez, pode tanto ser boa quanto ruim.
A lógica é válida para qualquer coisa na vida. Pensemos em alimentos. Não os comemos porque são saborosos - já parou para pensar como algo saboroso é relativo? -, mas sim pois nos causam uma sensação boa, um prazer. Esse estímulo interno tende a nos deixar satisfeitos, mas não é a comida que é boa. Pense que nos arrancaram as papilas gustativas -ou seja, não sentimos mais a diferença entre doce, salgado, azedo ou amargo- e o olfato, qual seria a diferença entre comer uma picanha de churrasco ou um monte de cocô? Além da questão da textura, não sentiríamos nada, pois ambos não estariam nos causando sensação alguma (além do tato, claro).
Paixão é a forma mais absoluta de egoísmo. Não bastando você estar dopado de prazer pela sensação que alguém o desperta, você precisa daquela pessoa para que possa continuar sentindo esse estímulo da melhor maneira possível, com prazer. Porque caso ela fique longe, o efeito reverso, de abstinência e sofrimento, se manifestam. Resumindo, apaixonar-se por alguém nada mais é do que querer ter por perto uma terceira pessoa (que nada tem a ver com o assunto, na maioria das vezes), para que assim você usufrua de estímulos internos e possa se sentir bem.
O ser humano é uma ilha e sempre será. Pode ser que nos correspondemos verbalmente para tentarmos decifrar o que sentimos internamente, mas nunca nos corresponderemos por intermédio emocional. Compatibilidade emocional- talvez-, intermédio nunca.
E aquele presente bonito que ganhávamos de natal? Gostávamos do presente ou da sensação? É bem provável que você nem tenha mais o tal presente, e se ainda tiver, se pergunta "Nossa, como algo tão simples já pôde me fazer tão feliz?!", pois já não te causa mais a mesma sensação de antes. Gostávamos da sensação, o presente, na maioria das vezes, perdia a graça com o tempo.
Seus amigos não são entidades mágicas que passam felicidade pelo ar e contaminam sua corrente sanguínea. São apenas pessoas que têm compatibilidade psicológica com você e que fazem com que estímulos de conforto, felicidade, preocupação, alegria, entre outros, se manifestem dentro de seu corpo. E somente são seus amigos por causa dessas sensações, pois caso contrário você os refutaria (assim como as pessoas de que não gosta). Somos egoístas, não tem jeito.
Depois disso tudo a solução não é sair por aí fazendo a marcha do suicídio coletivo. Mas que amplifiquemos nosso bom senso em relação aos outros. A vida nunca vai mudar, essa é uma condição pré-estabelecida.
E para encerrar, gostaria de deixar registrado que isso não é caótico. É a vida em sua mais pura essência. Até o homem mais generoso, só age assim, pois gosta do sentimento que seus atos altruístas lhe causam, senão não os faria.