quinta-feira, 26 de julho de 2012


Augusto, o pequeno
Por Gustavo Gonçalves

   Queria ser Augusto, que nasceu em caixa de sapato, mamou em bica de torneira, aprendeu a pisar no chinelo com os dois pés. Augusto, que inveja, tão pequeno e tão maior. Nasceu crescido, como rebento de gigante, mas era um anão. E fez vida minha, vida vizinha e vida alienígena menor, na verdade, menor ainda, muito pequena. 
   Augusto era grande, porém um anão era. Mas como no mundo dos humanos, ia crescer, e diminuir. Aprender, mas desaprender. E um dia sair por aí falando de amor, com as palavras secas, o rosto grande, e o coração confuso e pequeno.
   Por favor, Augusto, não sofra a metamorfose. A gente cresce, o mundo diminui. A gente cresce, a vida diminui. A gente cresce, o amor diminui. A certeza diminui, a desconfiança cresce. E assim vai, feito bolha elástica.






   Se Augusto crescer, não mais quero sê-lo, pois eu mesmo serei. Mas se Augusto ficar pequeno, há de ser maior que qualquer um. Há de ter respostas que homens diminuídos procuram, mas que não encontram porque são muito pequenos. 
   E para Augusto ficará reservado a descoberta da cura da AIDS, a primeira viagem a outra galáxia, a paz mundial, o fim da miséria, uma esperança para os diminuídos, pois Augusto será grandioso. 
   O que nosso mundo pequeno chama de loucura é o que Augusto ainda não mostrou. Que a verdade está em se acreditar e que é maior que qualquer certeza.
   A morte é pequena demais para levar Augusto, o grande que decidiu ser pequeno. E em sua caminhada, sobra apenas o grande infinito para acompanhar Augusto, que não diminuiu, mas viveu.

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