quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Trama de sagacidade
Por Gustavo Gonçalves
O dia prometia muito, não para todos, mas especificamente a Renan Asinus. Todas as garotas da escola já conheciam sua fama de pegador, para ser sincero até os rapazes. O camarada parecia estar coberto de mel e o formigueiro feminino o seguia para lá e para cá. De dois em dois dias Renan revesava a dupla de garotas que se encontravam agarradas em seus braços, caminhava feito um cafetão pelos corredores da escola (só lhe faltava um charuto cubano).
Esse dia em questão seria um triunfo para Renan, pois há pouco tempo uma garota chamada Carolina Foetent ingressara em sua escola, mais precisamente no primeiro ano do ensino médio (Renan estava no último ano). O conquistador não se aguentava em si quando viu a menina caminhar pelos corredores a primeira vez, como que em câmera lenta avistou aquele rosto angelical macio e corado, cabelos dourados em corte chanel, olhos azulados contrastantes com o negro da pupila, pálpebras levemente cerradas com uma concavidade felina, o corpo esbelto e sinuoso, um perfume que fazia Renan sentir-se em Paris (ainda que nunca estivera na cidade luz).
O prometido era que ainda nessa semana o sedutor deixaria em seus braços a menina mais bonita que alguém já vira. Devido a algumas afobações e desencontros os dias estenderam-se até quinta-feira, mas o seguinte ficou definido como o dia da conquista. E é deste que tratamos, o qual o formoso ícone feminino se preparava para o galanteio fulminante.
Não menos comum que os outros, o plano era cercá-la na saída após o fim das aulas, e assim nosso hábil namorador o fez. O inconveniente veio logo após a saída dele de sua sala, pois ao identificar Carolina, esta desviara-se para o banheiro, o qual era contrário ao fluxo de pessoas. Como um cão farejador, Renan a seguiu decididamente e num ziguezague furioso rompeu a massa de alunos e estacou-se diante do banheiro feminino.
Os minutos passaram, e nosso sedutor se impacientava a cada segundo. Com medo de ser a piada dos colegas na semana seguinte, tomou uma atitude drástica, entrou no sanitário feminino. Sorrateiramente verificou se não havia alguém o observando - deu sorte, pois não havia uma alma viva sequer - depois atirou-se pela porta do banheiro como se tivesse sido arremessado por outrem, mas sempre abafando seus ruídos. Certificando-se de que mais nenhuma menina se encontrava no ambiente começou a vasculhar os cubículos com privadas, assim que avistou um bem distante e fechado fixou o alvo. Entretanto, ao mesmo tempo ouviu passos e vozes femininas aproximando-se, antes que fosse descoberto e isso lhe custasse uma advertência bem justificada correu para o cubículo ao lado do qual supostamente se encontrava Carolina.
Depois de alguns segundos selado no sanitário, percebeu que as vozes tornaram-se cada vez menos audíveis. Programando-se para o que faria, por um ligeiro olhar avistou uma fresta na parede entre seu cubículo e o de sua deusa nórdica. Mais por uma questão de impulso curioso e masculino, Renan espremeu-se contra a parede e passou a observar o cubículo ao lado, onde estava sua futura garota. A beldade encontrava-se exatamente diante de seus olhos, num ângulo não muito generoso, mas que dava para avistar suas nádegas rentes ao assento do vaso sanitário, suas pernas desnudas e no exato momento começava a trocar de camisa.
Uma explosão de testosterona ascendia dentro do nosso galanteador, a ponto de este não se aguentar e começar a transpirar excessivamente - o que não é para menos, qualquer rapaz que possui uma inclinação sexual à atração feminina suaria litros também - e retirou a blusa. Quando voltou a espremer-se contra a parede o que via era somente o corpo semi-desnudo de Carolina, censurado apenas por um sutiã branco de bolinhas vermelhas e pelo vaso sanitário que cobria sua retaguarda.
Antes que Renan tivesse de engolir o próximo suspiro, ouviu-se um som estranho, porém muito semelhante ao de quando jogamos uma pedra num lago. Em seguida começou uma série dramática de sons semelhantes, alguns mais altos e outros menos - Carolina estava cagando - e logo um cheiro extremamente fétido atingiu, como uma corrente, as narinas de Renan, que sentiu ânsia quase instantaneamente. Não cessado o espetáculo de horrores, começaram os estrondosos peidos, alguns sofridos (percebia-se pelo esforço de Carolina), mas que resultavam em um claro alívio. Alguns com cheiro de repolho estragado, outros com aroma de feijoada amanhecida e alguns que remetiam a ovos podres.
Todo aquele ardor voluptuoso fora cessado e deu lugar ao enjoo do galanteador, não sobrando nenhum vestígio da paixão furiosa. Renan só conseguia ficar falando baixinho consigo mesmo:
- Por fora bela viola, por dentro pão bolorento com feijão, repolho, ovo e sei lá eu mais o quê, tô é fora, que nojenta!
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