Especial: Coluna Europeia (Parte 3)
Por Sheila Nascimento
Continuação
Conhecemos dois
brasileiros no hostel e com eles fizemos nosso passeio do outro dia. O destino
era a cidade do Vaticano. Atravessamos Roma, apreciando-a em todos os detalhes.
Também não economizamos nas fotos, pois em cada esquina nos deparávamos com uma
fonte diferente, um prédio histórico ou mesmo aquelas ruelas típicas da
civilização europeia. “Ridículo é saber que todos esses projetos são apenas
obras de Michelangelo e Bernini, por exemplo. Mais ridículo é pensar que foram
construídas devido a algum marco histórico.” Passamos pela Piazza di Spagna e
seguimos em direção à Piazza del Popolo, dois sítios muito visitados pelos
turistas. A propósito, turista é o que não falta naquela cidade! Sei que não
conheci a Itália ao visitar Roma, pois a coisa mais difícil de ser encontrada
em Roma é um romano. A cidade foi invadida pelos imigrantes também,
frequentemente africanos e indianos. Foi só depois de atravessarmos o Rio
Tevere e o Castel Sant’Angelo que avistamos a entrada do Vaticano. Eu estava
ansiosa.
Rio Tevere e Ponte Umberto I.
A primeira sensação
foi de que a praça e a basílica não eram tão grandes quanto eu imaginava. Mas
bastou uma maior aproximação para minha mudança de opinião. Assim como muitas
igrejas de Roma, a Basilica
Fachada da Basilica di San Pietro.
Interior da Basilica di San Pietro
mostrando o Baldaquino de Bernini.
di San Pietro é um verdadeiro império. Com
colunas jônicas e coríntias tão altas que parecem que vão tocar o céu. A
Basilica di San Pietro foi construída entre 1507 e 1607, com a participação de
grandes arquitetos, como Bramante, Raffaello, Sangallo, Michelangelo e Maderno,
durante o período renascentista, mas Bernini também deixou sua influência
barroca. No seu interior, a basílica é ainda mais imensa. Composta por inúmeras
capelas, a igreja é organizada para que os turistas possam percorrer suas
laterais por um sentido único, para evitar tumulto. É logo na entrada que se
encontra, protegida por um vidro blindado e por dezenas de chineses que
chegaram antes de você, a escultura La Pietà de Michelangelo, considerada sua
obra de acabamento mais elaborado. O centro da basílica revela surpresas: o
Baldaquino de Bernini, uma riquíssima obra tipicamente barroca, e o altar
principal, do mesmo artista. Mas logo minha atenção foi roubada pela gigante
cúpula que pode ser vista de todos os cantos de Roma. Elaborada por
Michelangelo e Giacomo della Porta, no mais perfeito estilo renascentista, esta
obra dá vida ao interior da basílica por criar uma iluminação impecável ao
ambiente. E mais uma vez é o mármore que desenha o piso de toda a basílica, sob
a forma de brasões circulares.
Uma pausa para o
almoço, em um ristorante que me
serviu o melhor panettone de todos os
tempos: massa leve e macia coberta com um divino açúcar de confeiteiro. Em
sentido literal, os italianos comercializam comida. É certo que a cozinha
italiana é uma das mais influentes do mundo, e certamente os italianos sabem
disso. Os garçons avistam de longe os possíveis turistas que procuram por uma
boa pasta, oferecem menus e negociam preços. Mas se mostram verdadeiros
italianos quando ficam à espera de um elogio pós-degustação, pois para eles não
há nada mais importante na vida do que cozinhar e comer. Sem dúvida, a
dignidade de um homem na Itália se mede na cozinha!
O melhor panettone de todos os tempos.
Os Musei Vaticani
concentram um inestimável patrimônio artístico. Imaginem um imenso prédio em
que cada chão, parede ou teto tenha sido minuciosamente arquitetado com a única
finalidade de transmitir beleza e perfeição. Abrigam desde obras da pré-história
até do período do renascimento e arte bizantina, incluindo importantes acervos
egípcios e gregos. Fiquei fascinada com os gigantes corredores de tetos
trabalhados e paredes cobertas com tapetes (arazzi,
em italiano) de estampas religiosas ou conquistas territoriais romanas, sob um
ambiente de luz dourada. Mas as capelas são a grande sensação do museu.
Transmitem geralmente temas cristãos através de afrescos magníficos que cobrem
todo o ambiente com cores suaves e detalhes dourados. A Stanza della Segnatura
contém os afrescos mais famosos de Raffaello: a sala sinaliza o começo do Alto
Renascimento. Originalmente, Julius II usou a sala como sua livraria e quarto
de estudo privado. O esquema iconográfico dos afrescos, pintados entre 1508 e
1511, reflete seu uso. A Cappella Sistina é a sala mais procurada do museu,
seja devido à sua importância religiosa (é o local utilizado para a realização
dos conclaves), seja por sua importância artística. Através de afrescos de
figuras vigorosas e dramáticas, suas paredes e seu teto representam cenas
bíblicas que abrangem desde a criação do mundo até o juízo final.
Teto da Stanza della Segnatura, de Raffaello.
Musei Vaticani.
Laocoonte
e seus filhos no coração do museu. Musei Vaticani.
Vista da cúpula da
Basilica di San Pietro, a foto mais bonita da viagem! Musei Vaticani.
Realmente, uma obra maravilhosa
de Michelangelo, Raffaello e outros artistas renascentistas. A arte grega
também ganha espaço no museu, com esculturas de deuses e imperadores de
perfeitas formas físicas. Para mim, o destaque foi a obra Laocoonte e seus
Filhos, uma dramática escultura helenística. No acervo egípcio, encontramos
sarcófagos, máscaras funerárias e até múmias. Vasos do período Neolítico ainda
compõem algumas salas. Tivemos o privilégio de ver também O Pensador, de Rodin,
em exposição temporária. E então, por profundas escadas de caracóis, deixamos os
Musei Vaticani.
(Continua na próxima terça)
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